Tudo que se movimenta na Economia tem como origem a necessidade ou a vontade do consumidor. Por isso esta necessidade, e principalmente a vontade - que, por fim, determina a atitude de consumo - precisam estar equilibradas numa relação de custo/benefício.
Na visão que embasou esta proposta, a situação de carência a ser superada é considerada também uma dificuldade de gestão da economia pessoal. E o ato de consumir aparece como um dos eixos centrais da economia pessoal. Se, pelo trabalho, pretende-se ensinar como conquistar determinadas coisas, fica faltando ensinar como ter, ou então, como manter essas coisas no novo padrão de vida. Esta é a característica do consumidor bem preparado, esclarecido.
Consumir bem está se tornando cada vez mais complicado. A quantidade de ítens que vão sendo incluídos entre os bens de consumo cresce rapidamente. Forno de microondas, DVD, filmadora, máquina fotográfica digital, microcomputador, banda larga, celular muda a cada dois anos, fogão passou a ser de seis bocas, chapinha para o cabelo, tênis com tecnologias novas, ipod, videogames, isso sem entrar no carro e nos autoítens, e ainda tem vestuário, alimentação, lazer. Tudo multiplicado por um vasto espectro de marcas e modelos.
São tentações permanentes, pressões sempre presentes nos espaços de convivência social. A elas, soma-se um sofisticado e competente sistema mercadológico, que vem desde o merchandising na novela, passa pelas grandes campanhas publicitárias, envolvendo promoções e eventos e chega a um outro arriscado ítem que, se não é exatamente de consumo, é muitas vezes para consumo: o crédito.
Se comparar a extensão deste menu, hoje abrangentemente popular, com as alternativas de um nobre da Idade Média, este último pareceria um franciscano.
Talvez por isso, nos anos 70, a palavra "consumista" era a referência mais comum à atitude de consumo. E uma referência altamente pejorativa. Rejeição à uma realidade que estava se instalando de forma irreversível. A chamada "sociedade de consumo".
É verdade que o termo "consumista" não tinha nada a ver com o conceito de consumidor dos dias de hoje. O consumista seria hoje o mau consumidor, com muito poder. Mas este contraste de significados entre palavras tão semelhantes pode mostrar como a atitude de consumir foi repensada e redimensionada ao longo dos anos.
O consumidor conquistou leis e até um Código específico, varas judiciais, serviços públicos e privados de fiscalização e atendimento, espaço específico no Ministério Público, escritórios de direito especializados, departamentos nas empresas fornecedoras. Em pouco tempo o conceito de "consumidor" ganhou um status de grande importância na Sociedade. Confunde-se com o próprio conceito de cidadania. Faz sentido! Afinal, como fruir os direitos assegurados pela lei, sem praticar ordinariamente o ato de consumir?
A seguir, algumas reflexões sugeridas para o tema:
Esclarecendo o consumidor vai ser possível formar um contingente cada vez maior, para a constituição da insuperável força da sociedade. Uma sociedade que pode alcançar o poder de fazer atender todas as demandas coletivas. Um consumo mais pragmático deve surgir. Um consumo quase engajado.
Para tanto, o consumidor pode pensar sua posição não apenas na condição de "mercado". Muitas vezes o termo é usado como sinônimo. Porém, o mercado é algo coletivo. A "lógica do mercado" é algo que pode surpreender a cada instante. Sobre a qual não se tem controle ou parâmetros mais estáveis. Já o consumidor tem raciocínio próprio. Por isso pode tentar se articular minimamente e se estabelecer como poder, e não apenas se apoiar num conjunto de direitos.
Se, ao "poder econômico" são atribuídas tantas decisões e direcionamentos, o conjunto dos consumidores é exatamente o fator gerador sobre o qual se estabelece e se justifica este poder.